NOSSA SENHORA DE A TOCHA
Abarcando toda uma extensa área litorânea, cuja superfície se estimará em 7.888 hectares, Tocha constitui-se como a mais ocidental das freguesias de Cantanhede, encaixada junto à orla costeira atlântica e confrontando com os vizinhos termos municipais de Mira (a norte), Figueira da Foz e Montemor-oVelho (ambos a sul). Dos flancos oriental e nordestino, o seu aro entesta ainda com o das congéneres Sanguinheira e Cantanhede, respectivamente. Cerca de quatro mil almas comporão actualmente a população residente neste imenso termo, num tipo de povoamento muito concentrado, em apenas dois principais núcleos – Tocha e Palheiros da Tocha.
Inserta em plena sub-região da Gândara, da qual constituirá parte nuclear, a Tocha estende-se por um imenso trecho de planície arenosa – com alguns pontos de natureza lacustre -, onde as formações <lunares surgem travadas por extensões de pinhal, artificialmente criadas por acção humana.
Com um longo areal costeiro, esta freguesia é assaz conhecida pelo seu antigo aldeamento de pescadores – designado Palheiras da Tocha, em virtude das características construções em madeira, assentes sobre estacas e com coberturas de palha ou junco -, agora transformado em apreciada estância balnear, muito concorrida na época de veraneio por um afluxo turístico que lhe tem emprestado notório desenvolvimento.
“O palheiro não é mais que uma típica casa de madeira das matas da região, assente em altos esteios de pinho, para defesa das areias marinhas em que está cravado. Possibilitava assim a livre circulação inferior das areias e das águas do mar, em tempo de marés vivas. Pode ainda ver-se um número de palheiras a norte da povoação, se bem que os esteios de cimento tenham vindo a substituir os de pinho.” (Nelson Correia Borges)
Um tipo de pesca artesanal de arrasto, onde as redes são puxadas em esforço manual, continua a ser por aqui praticado, embora em reduzida escala. “Tempo houve em que para lá se deslocavam os camponeses das povoações vizinhas, feitos pescadores entre Junho e Dezembro, chegando a operar onze campanhas de pesca.” (idem)
Sobre as origens do povoamento local pouco se conhece, embora um pouco por toda a região limítrofe ao termo paroquial de Tocha se registe um apreciável conjunto de achados arqueológicos dos períodos pré e prato-históricos, bem assim como do âmbito da romanização, conforme dão notícia os trabalhos de prospecção promovidos por Santos Rocha ou, mais modernamente, por Raquel Vilaça, Carlos Cruz e outros.
Tocha é corónimo tão recente quanto o fenómeno que daria origem à própria instituição paroquial, relativo à fundação de um templete daquela invocação à virgem galega de Atocha, promovido por João Garcia Bacelar, de Pontevedra. Sobre este culto local, bem assim como a sua lendária origem – em episódio similar ao que se conta acerca de D. Fuas Roupinho e a Senhora do Salto, na Nazaré -, alinhavamos já um capítulo próprio na parte geral desta obra. Da capela primitiva, fundada em 1610, se evoluiria posteriormente para a actual Igreja Paroquial, notável edificação que detém apreciável interesse arquitectónico e artístico. Trata-se de uma construção de ampla volumetria e austeras linhas arquitectónicas, denunciando um gosto maneirista de finais do século XVII, altura em que terá sido promovida a repectiva fábrica, pelos cónegos regrantes de Santa Cruz de Coimbra. Na segunda metade da centúria seguinte, haveria de conhecer ainda importante reforma.
O imóvel apresenta um alçado principal de linhas simples mas harmoniosas, incluindo a um dos flancos (esquerda do observador) uma torre sineira de planta quadrangular, de equilibrada volumetria. O pórtico principal, em esquadria e encimado por sobressaliente cornija, é sobrepujado por um amplo janelão do mesmo recorte, este rematado ao alto por um frontão interrompido; um pouco mais acima abre-se pequeno óculo. Os robustos cunhais, em cantaria
aparente, são encimados no topo por pequenos pináculos ou fogaréus.
Mas é no interior do imóvel que mais se poderá deslumbrar o visitante, mediante um espaço de inusitada concepção arquitectónica, relativo à capela-mor. “Um arco cruzeiro redondo separa a nave da capela-mor; é uma composição de pilastras com almofadados e entablamento; tem as cantoneiras decoradas com pinturas que se completam na metade superior da parede, fingindo nichos aos lados, acima da linha das impostas. A capela-mor é quadrada; no centro eleva-se um templete circular constituído por 8 colunas coríntias, cúpula e lanternim, ligado aos ângulos das
paredes por arcobotantes. Altar-mor de trono, de 4 faces (a posterior fechada), de talha, com a
imagem da Senhora de Atocha. Nas paredes 20 painéis de azulejos representam símbolos marianas” (João Cravo/Francisco de Jesus).
Estes azulejos corresponderão a um trabalho da segunda metade de setecentos, estando os da capela-mor datados de 1763. A Igreja de Nossa Senhora da Tocha encontra-se classificada, desde 1944, como “Imóvel de Interesse Público”.
Na antiga Quinta da Fonte Quente, afecta outrora ao Mosteiro de Santa Cruz de Coimbra e onde se instalaria modernamente o Hospital-Colónia de Rovisco Pais, subsiste uma interessante edificação de tipo solarengo, incluindo pequeno templete anexo.
Esboçando uma sumária caracterização económica local, assistir-se-á actualmente a um franco declínio das actividades ligadas ao sector primário, nas quais se empregará actualmente uma modesta fatia – 16% – da totalidade da população activa.
Mantém-se no entanto, como importante contributo para a economia local, a produção leiteira. O sector terciário, vocacionado para as actividades comercial e de prestação de serviços, assumirá nesta freguesia o mais relevante papel económico, absorvendo a grande maioria dos cidadãos que aqui laboram.
A Tocha pode justamente orgulhar-se da sua franca evolução, nos últimos decénios, a nível do estabelecimento de modernos e funcionais equipamentos sociais, em áreas respeitantes ao desporto, cultura e lazer. Procedeu-se assim à construção de um pavilhão desportivo, campos de jogos, etc. No domínio da assistência social e saúde, regista-se a existência de um Centro de Dia e Lar da Terceira Idade, o Centro de Saúde e um hospital central – o Centro de Reabilitação Tocha Rovisco Pais.
As colectividades que dão pelos nomes de Associação de Caçadores da Gândara e União Desportiva da Tocha, vão compondo, por seu turno, o panorama associativo local.
SILVA, João Belmiro Pinto da, “Cantanhede – Honrando o Passado, Rumo ao Futuro”, Paços de Ferreira, Héstia Editores, 2004
Entidades Associativas:
- Acção – Associação Cultural e Recreativa da Tocha
- Associação de Bodyboard dos Palheiros da Praia da Tocha
- Associação de Caçadores da Gândara
- Associação de Caçadores do Pinhal do Povo
- Associação de Jovens Ecológica, Desportiva e Cultural da Tocha
- Associação de Moradores da Praia da Tocha
- Associação Recreativa e Cultural 1.º de Maio da Tocha
- Associação Voleibol Gândara Mar
- Atletismo Clube da Tocha
- Centro Popular de Trabalhadores de Cochadas e Catarinões
- Clube de Pesca Desportiva Pedreira dos Húngaros
- Núcleo de Pesca da Associação de Moradores da Praia da Tocha
- Núcleo de Pesca da Associação de Moradores da Praia da Tocha
- União Desportiva da Tocha