SANTO ANDRÉ
Implantada na orla nascente do território concelhio, onde ocupa posição central, esta freguesia de Cordinhã surge já praticamente limítrofe ao vizinho termo municipal da Mealhada, que se estende para lá dos seus confins meridionais (se bem que em reduzida expressão).
Nas suas restantes confrontações, encontrará Cordinhã as congéneres Murtede (a envolvê-la pelos flancos oriental e sudeste), Ourentã (a norte), Cantanhede (a poente) e finalmente Portunhos (a sul). Cerca de sete quilómetros separam Cordinhã da cidade que é capital concelhia.
Inserida já em área tipicamente bairradina, esta freguesia detém um termo pouco extenso em superfície, o qual andará estimado em 1.025 hectares, alongando-se a sua trama de casario ao longo de um eixo viário local, numa extensão de cerca de três quilómetros. Este termo abrange, para além da povoação sede, as de Arnosela, Azenha e Ourentela. A sua população global rondará actualmente os 1.100 residentes. Banhada por dois pequenos ribeiros, esta freguesia alguma variedade na sua orografia, incluindo alguns montes ou pequenas elevações – Baloiro, Cumiais e Quinta do Olival ou Quinta do Olival dos Santos – densamente florestados de pinhal e eucaliptal, os quais se entremeiam com razoáveis parcelas de planície, demonstrando estas excelentes aptidões agrícolas.
Nos seus solos se cultiva, em assinalável expressão, a típica vinha bairradina, produtora de vinhos que se destacarão pelas suas específicas qualidades, de há muito reconhecidas.
Para além desta, surgem também as culturas cerealíferas e hortícolas como base de sustento de uma economia local ainda muito arreigada ao sector primário. Na verdade, para além de absorver cerca de 90% do total da população activa, a prática agrícola local não se restringirá a uma lógica de autoconsumo. Do total das explorações existentes, à volta de 10% deterão apreciável dimensionamento e elevada rentabilidade, devendo frisar-se que a grande maioria das restantes (85%) evidencia uma bitola média, em termos de expressão produtiva e área abrangida.
A pecuária, sobretudo na vertente específica da suinicultura – ligada, como não poderia deixar de ser, à importante especialidade gastronómica bairradina que é o leitão assado-, possui aqui igualmente certo ascendente.
Em termos arqueológicos, há notícia do achado de um número indeterminado de “machados de pedra” – certamente polida e de tradição neolítica, segundo referência do Dr. Carlos Cruz – no sítio do Alpeirão e em zona de terrenos argilosos. Já na Quinta do Mancão, seria por seu turno descoberto um “objecto de arenito, possivelmente uma mó movente manual“, atribuída ao período Neo-Eneolítico pelo mesmo autor, o qual terá aludido igualmente à presença de cerâmicas romanas por estas imediações. (João Reigota) Tendo sido, no domínio eclesiástico, um antigo priorado da apresentação dos Condes de Pombeiro, seus donatários, Cordinhã possuiu outrora alguma autonomia judicial, tendo direito a um juiz dito “pedâneo” (porque efectuaria os julgamentos de pé, sendo próprio de circunscrições administrativas menos relevantes), o qual era confirmado pelo juiz de fora de coimbrão.
Pelo ano de 1839, esta freguesia surgia a integrar a comarca de Figueira da Foz, sendo que em 1852 já dependeria da de Cantanhede e, por 1879, se documentava compondo o julgado de Ançã, posteriormente extinto conforme se sabe.
No extremo noroeste da povoação sede de freguesia, ergue-se a actual Igreja Paroquial de Santo André, templo de razoáveis proporções, equilibrada e harmoniosa traça, tida por setecentista e correspondente a reedificação de anterior estrutura, por certo mais modesta. A um flanco da frontaria sobreeleva-se, como é comum nas igrejas paroquiais da região, uma elevada torre sineira. Esta, de planta quadrangular e repartindo-se vertical mente em três diferentes tramos (o superior ligeiramente mais estreito), ostenta os respectivos cunhais fabricados em cuidada cantaria aparente e é rematada ao alto por uma cobertura piramidal regular, ornada de pináculos nos respectivos vértices e incluindo actualmente um relógio no seu arranque. Quanto ao alçado principal do templo, a sua composição arquitectónica surge com alguma austeridade num pórtico de esquadria arquitravado, sobrepujado este por uma moldura superior de cantaria em relevo, espécie de cartela que fenece, ao alto, junto a um pequeno óculo quadrilobado. No interior, para além do altar mor e dos colaterais – estes dedicados a Nossa Senhora do Rosário, do lado do Evangelho e a Santo António, do da Epístola -, subsistirão ainda mais dois, sitos aos flancos do corpo da igreja e dedicados a Nossa Senhora da Conceição e Nossa Senhora de Fátima. Interessante nota artística merecerá o lambril de revestimento azulejar que guarnece a capela mor, de tipo mudéjar ou sevilhano e por certo ainda quinhentistas. Mais recuada ainda será parte da imaginária patenteada nos diversos altares, com destaque para as peças escultóricas de feição coimbrã e quatrocentista – imagens de Santo André e S. Brás e um Calvário em baixo-relevo. Digno de registo será também um Cristo Crucificado executado em madeira e atribuído já aos sécs. XVI-XVII, bem assim como uma custódia em prata setecentista.
Ao centro do adro fronteiro ao templo descrito, ergue-se por seu turno um singelo, mas artístico Cruzeiro, datado de 1689. Este pequeno monumento, constituído por peanha prismática de embasamento, coluna dórica e cruz de extremidades florenciadas de remate, terá estado primitivamente defronte à Capela de Nossa Senhora do Ó, em Ourentela, segundo expressa uma tradição local. O aludido templete, de vulgar feição arquitectónica, abriga no seu interior um interessante retábulo barroco setecentista, onde repousam imagens de certo valor artístico, como sejam uma Virgem com o Menino (possivelmente quatrocentista), uma Santa Luzia e um S. Pedro (estas tidas por seiscentistas), todos eles exemplares escultóricos elaborados na pedra calcária local ançanense.
SILVA, João Belmiro Pinto da, “Cantanhede – Honrando o Passado, Rumo ao Futuro”, Paços de Ferreira, Héstia Editores, 2004
Entidades Associativas:
ACRC – Associação Cultural e Recreativa de Cordinhã
Associação Cordinhã Rumo ao Futuro
Clube de Caça e Tiro de Cordinhã
Cordinharte – Associação Arte e Cultura de Cordinhã
Rancho Folclórico “Os Lavradores” de Cordinhã