CANTANHEDE
S. PEDRO
Eis agora a capital concelhia, antiga vila e actual cidade de Cantanhede, cuja estratégica implantação a faz ocupar uma posição central, bem pelo interior do território concelhio a que preside. De assinalável extensão – deterá, logo a seguir à Tocha, o segundo mais amplo termo de freguesia, orçado em 4554 hectares – Cantanhede lidera, de longe e em termos populacionais, sobre toda o restante conjunto das suas congéneres, tendo ultrapassado já a fasquia dos sete milhares de cidadãos residentes.
Conforme se afirmou já na parte introdutória deste trabalho monográfico, Cantanhede é geralmente considerada a capital de sub-região da Gândara, pese embora o facto de se encontrar integrada numa zona de transição para a vizinha Bairrada, sub-região de que deterá já boa parte das respectivas características geográficas, de ordem física e humana. Para além da povoação principal, recentemente eleita à categoria de cidade, acham-se ainda abrangidos no aro desta freguesia de Cantanhede, os lugares de Franciscas, Lemede, Lírios, Póvoa da Lomba, Tarelhos e Varziela.
Tudo quanto será possível apontar, em termos de indício se vestígios arqueológicos respeitantes às mais recuadas origens do povoamento local, permanece por ora algo vago e fragmentário, em virtude de se não haver procedido ainda a quaisquer trabalhos sistemáticos de escavações, nos diversos pontos de cujo potencial arqueológico se suspeitará. Assim, segundo Carlos Cruz (citado por João Reigota), no sítio da Fonte de Lemede ocorrerão “vestígios romanos e neolíticos” – seja concretamente “fragmentos cerâmicos e um machado de pedra polida“, respectivamente -, enquanto nas imediações do cemitério, sito na extremidade setentrional do aro citadino de Cantanhede, se haverão revelado os achados, já pelo último quartel do século XIX, de outros exemplares de machados de pedra polida, de tradição neolítica. Para a instituição museológica por si fundada na Figueira da Foz, levaria Santos Rocha um “belo machado de anfibolite“, de tipologia identificada com a dos teriam sido detectados no Cabo Mondego, isto pelo ano de 1898. Anos antes, porém, Augusto Filipe Simões haveria de ofertar ao Instituto de Coimbra – onde se encontrarão depositados no respectivo Museu de Arqueologia – outros quatro machados, surgidos em Cantanhede em 1876. O exacto local da descoberta parece ser, infeliz mente, desconhecido.
A microtoponímia desta freguesia inclui numerosas outras sugestões de muito plausível interesse arqueológico, conforme se deverá inferir de uma listagem de quase duzentos exemplos, publica da por João Reigota. Entre outros, destacar-se-ão os casos de Cabeço da Moira, Mortórios (possível necrópole), Mouriscas, o remoto hagiotopónimo S. Gião (e ainda Santo António, S. Facundo e S. Caetano, estes relativos a cultos locais mais próximos no tempo, mas ainda assim de eventual origem em épocas baixo medieval ou moderna), Pedra do Sino, Torre (aludindo eventualmente a desaparecida edificação fortificada de época medieval, do tipo das construções senhoriais torreadas ou, noutra possibilidade, a uma ainda anterior estrutura do domínio romano, conforme sugerem diversos outros casos já comprovadamente estabelecidos um pouco por todo o nosso território nacional), etc.
Têm acordado os etimologistas em atribuir ao topónimo Cantanhede uma remota origem, em alegado radical pré-romano “cant“, ligado a termos que aludirão à suposta exis tên cia de grandes pedras (eventualmente as próprias e abundantes pedreiras de calcário locais, segundo pretendem certos autores). Muito se tem conjecturado – e efabulado, até – sobre as supostas origens de um povoamento local, que alguns pretendem remontar a ancestrais épocas, anteriores ainda à dominação romana. A arqueologia, não se tendo mostrada especialmente relevante e proveitosa, em termos de asserções mais concludentes, tem assim conhecido substituição numa nebulosa e vaga tradição, de ténue suporte toponímico e pouco mais. Atente-se a título de exemplo, neste trecho assinado por Nelson Correia Borges:
“Se o nome recorda celtas e romanos, fazendo supor que já nesses tempos aí havia uma povoação, a primeira referência histórica aparece apenas em 1087, no testamento do célebre conde D. Sesnando, que teria mandado fortificar e povoar a vila, por volta de 1080. Isto pressupõe igualmente a sua ocupação pelos árabes, até 1064, ano em que Coimbra caiu definitivamente na mão dos cristãos.”
Mas o desfiar da pouco sustentada tradição historiográfica não se fica por aqui, já que, à míngua de documentação comprovativa, perorará a mesma fonte:
“O rei D. Sancho I continuou esta política, fazendo jus ao seu cognome de “Povoador”. A ele se atribui a criação de numerosas póvoas na região. O primeiro foral de Cantanhede, a crer no que se tem dito, teria sido outorgado, porém, por D. Afonso II, mas nada há que o comprove. De positivo apenas se conhece o manuelino, de 1514.”
Uma outra tradição, esta com suporte em um passo da obra do bem conhecido cronista Fernão Lopes, pretenderá haver sido em Cantanhede, e muito precisamente em 1360, que o não menos famoso rei D. Pedro – cognominado o “Crú” ou, em alternativa, o “Justiceiro” – teria declarado pública e solenemente perante o povo e os grandes do reino, ser sua legítima esposa a malograda e bela Inês de Castro, ordenando que ficasse lavrado por escrito o acto, perante um tabelião para o efeito designado.
Em boa verdade se deverá dizer que, em Cantanhede, a verdadeira história, como povoação de monta, parece ter começado a delinear-se pelos inícios de quinhentos ou, quando muito, pelos derradeiros tempos da centúria antecedente. Assim o dizem os mais remotos exemplares de arquitectura religiosa, os quais redundarão, em ter mos patrimoniais, naquilo que de mais significativo e monumental esta terra foi produzindo.
Como exemplares de interesse maior teremos aqui, para além da Igreja Paroquial, a pequena, mas interessante Capela da Varziela, a Igreja da Misericórdia (templo que foi do antigo Convento de Nossa Senhora da Conceição) e ainda as Capelas de S. Mateus, S. João Baptista e S. Jorge, todas elas no aro desta freguesia de Cantanhede. Embora totalmente descaracterizada no seu espaço interior e não funcionando já ao culto, deve igualmente referenciar-se uma outra estrutura de antigo templete, de origem quinhentista e primitiva invocação à Senhora da Misericórdia, actualmente transformado em espaço comercial.
À semelhança da generalidade destas edificações, a Igreja Paroquial de Cantanhede (classificado como “Imóvel de Interesse Público” desde 1957) é um imóvel de raízes arquitectónicas quinhentistas, se bem que traia presentemente diversas intervenções que reformulariam e ampliariam intensamente a sua primitiva traça. Dotada de uma planta rectangular alongada e provida de três naves – estas separadas por arcadas de volta perfeita definindo cinco diferentes tramos – a estrutura ostenta ainda, da sua primitiva feição renascentista/maneirista, especialmente a estruturação do seu espaço interior. À segunda metade de quinhentos e ao talento de João de Ruão se terão ficado a dever o esplêndido retábulo da Capela do Sacramento e, eventualmente também, o da Capela da Misericórdia. Pelo exterior, a Paroquial de São Pedro de Cantanhede surge dotada de elegante e bem proporcionada torre sineira, adossada à sua ilharga, ostentando uma frontaria algo austera e despojada, onde se rasgou um portal de vão rectangular simples, enquadrado por duas colunas dóricas, estas repousando sobre pedestal e dando suporte a em entablamento provido de friso ornado de rosetas; ao centro do interrompido frontão de remate abre-se, por seu turno, uma alta janela central rematada em frontão triangular.
Do Convento de Nossa Senhora da Conceição, instituído pelo 1º Marquês de Marialva em 1675, resta hoje o antigo templo, posteriormente convertido na Igreja da Misericórdia. Com seu amplo vão em arco abatido, que abre para um espaço interior onde se detectará a existência de um austero pórtico renascentista de verga recta, a frontaria deste recém restaurado templo inclui igualmente, à ilharga e à esquerda do observador, uma equilibrada torre sineira, adossada e um tanto recuada em relação ao restante pano deste alçado principal. No interior alberga-se um excelente revestimento azulejar, ao nível da capela mor e onde se acham integrados nove painéis figurando cenas da vida de Nossa Senhora. Trata-se de azulejaria de fabrico coimbrão, atribuída à segunda metade de setecentos. Os retábulos de talha barroca serão do mesmo período, merecendo destaque o da capela mor. Notável é um conjunto escultórico em pedra de Ançã, da escola coimbrã renascentista, representando Santa Ana, a Virgem e o Menino.
A Capela da Varziela é “Monumento Nacional” desde 1910.
Integrava outrora a Quinta da Varziela, propriedade dos Condes de Cantanhede, tendo sido instituída por D. Jorge de Menezes, cerca de 1530, para lhe servir de jazigo. Possui capela mor de traça poligonal, albergando, no seu interior, um notável trabalho retabular em pedra de ançã, da autoria de João de Ruão. Nesse retábulo, figurando Nossa Senhora da Misericórdia, o famoso escultor renascentista legaria ainda um magistral remate armoriado alusivo à heráldica dos Menezes, históricos Senhores da Vila de Cantanhede, bem assim como outras figurações de diversas santas, expressas na respectiva predela.
Os Menezes, antigos Condes e mais tarde Marqueses de Cantanhede, edificaram igualmente por estes seus domínios senhoriais, uma opulenta estrutura residencial solarenga, conhecida por Paço dos Marqueses de Marialva. O belo e harmonioso edifício, cuja primitiva fábrica recuará a 1553, foi ao longo dos tempos remodelado e ampliado em sucessivas campanhas de obras. Na sua planta composta e articulada em “L” foi integrado um esguio e elevado torreão de relógio, isto já no decurso do século XX e em solução arquitectónica passível de pouco abonatória crítica. A antiga estrutura habitacional apalaçada serve actualmente de Paços do Concelho de Cantanhede. No pátio do respectivo imóvel se atestarão as mais recuadas sobrevivências da primitiva fábrica quinhentista. “A galeria inferior estende-se por 7 tramas abobadados de nervuras sobre arcos cruzeiros oblongos, prolongados por mais 2, sob os primeiros lanços da escada. As mísulas e as chaves ostentam ornamentação diversa, encontrando-se numa destas a seguinte inscrição: ESTA OBRA/ SE F(E)Z NO/ ANO DE 1553. A fachada oposta, muito idêntica a esta, é uma reconstrução com critério e unidade.” (Francisco Jesus)
Outro antigo edifício de solarenga traça provincial é o da antiga Casa do Capitão-Mor, hoje convertido em Casa Municipal da Cultura. Acusando uma planta longitudinal alongada e composta, envolvendo uma volumetria de dois pisos, a estrutura apresenta-se armoriada num dos cunhais por esplêndida pedra de armas. O edifício terá sido erguido pelos inícios do século XVIII e mandado posteriormente reformar, para sua residência, pelo capitão-mor João Henriques de Castro, isto pelos finais da mesma centúria.
Merecendo ainda uma palavra, no âmbito desta vertente do património edificado, estará a chamada Casa dos Bogalhos, sita no Largo Pedro Teixeira. Embora um tanto mal conservada e adulterada na sua estrutura interior por sucessivas intervenções posteriores, a edificação preservará ainda algumas das características arquitectónicas seiscentistas primitivas, como seja a sua escadaria de alpendre típica da região bairradina (Francisco Jesus).
SILVA, João Belmiro Pinto da, “Cantanhede – Honrando o Passado, Rumo ao Futuro”, Paços de Ferreira, Héstia Editores, 2004
Entidades Associativas:
- Academia CantanhedeGym
- AFECC – Associação dos Filhos da Escola do Concelho de Cantanhede
- Agrupamento n.º 382 do Corpo Nacional de Escutas
- AMCC -Associação de Músicos do Concelho de Cantanhede
- AMVA – Associação de Moradores da Urbanização Vila D’Alva
- Associação Bem-Estar Nossa Senhora das Neves
- Associação Bem-Estar Nossa Senhora das Neves
- Associação Columbófila do Distrito de Coimbra
- Associação de Estudantes da Escola Secundária de Cantanhede
- Associação de Veteranos de Guerra do Centro
- Associação do Grupo Musical de Franciscas
- Associação Geração Spectrum
- Associação Recreativa e Cultural da Varziela
- ASSSCC – Associação de Solidariedade Social Sociedade Columbófila Cantanhedense
- Cantemus
- Casa do Futebol Clube do Porto – Dragões Cantanhede
- Centro de Ciclismo de Cantanhede
- Clube de Caçadores da Zona Ribeirinha
- Clube de Caçadores de Cantanhede
- Clube de Futebol “Os Marialvas”
- Clube de Golfe de Cantanhede
- Clube Escola de Ténis de Cantanhede
- Episódio Medieval – Associação Cultural
- FOTOGRAFARTE – Associação de Expressão Artística e Fotográfica de Cantanhede
- Grupo de Teatro S. Pedro
- Grupo Folclórico “Flores da Nossa Terra”
- Grupo Folclórico Cancioneiro de Cantanhede
- Grupo Onomástico “Os Antónios de Cantanhede”
- Grupo Onomástico “Os Joãos de Cantanhede”
- Grupo Onomástico “Os Mistos”
- Juve Cantanhedense – Associação Cultural e Recreativa de Cantanhede
- Orfeão Vox Caeli de Cantanhede
- Pensamento Voador – Associação para a promoção de ideias
- Rancho Regional “Os Esticadinhos”
- Ritmos – Associação Juvenil, Recreativa e Cultural de Cantanhede
- Sombras Negras Atlético Clube
- Sporting Clube Povoense
- Urva Bike Team – Associação de Ciclistas e Praticantes de Desporto ao Ar Livre de Cantanhede